Menos mal
que no morí de todas las veces que
quise morir; que no salté del puente,
ni cubrí las muñecas de sangre, ni
me acosté en los rieles, allá lejos. Menos mal
que no até la cuerda a la viga del techo, ni
compré en la farmacia, con una receta falsa,
una dosis de sueño eterno. Menos mal
que tuve miedo: de los cuchillos, de las alturas, pero
sobre todo de no morir completamente
y quedarme por ahí, aún más perdida que
antes, mirando sin ver. Menos mal
que el techo fue siempre demasiado alto y
yo ridículamente pequeña para la muerte.
Si yo hubiera muerto de uno de esos momentos,
no oiría ahora tu voz, que me llama
mientras escribo este poema, que acaso
no parece, pero es, un poema de amor.
Ainda bem
que não morri de todas as vezes que
quis morrer – que não saltei da ponte,
nem enchi os pulsos de sangue, nem
me deitei à linha, lá longe. Ainda bem
que não atei a corda à viga do tecto, nem
comprei na farmácia, com receita fingida,
uma dose de sono eterno. Ainda bem
que tive medo: das facas, das alturas, mas
sobretudo de não morrer completamente
e ficar para aí – ainda mais perdida do que
antes – a olhar sem ver. Ainda bem
que o tecto foi sempre demasiado alto e
eu ridiculamente pequena para a morte.
Se tivesse morrido de uma dessas vezes,
não ouviria agora a tua voz a chamar-me,
enquanto escrevo este poema, que pode
não parecer – mas é – um poema de amor.
[A ideia do fim, 2012]